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domingo, 16 de abril de 2017

O CAPITÃO-MOR DA REAL VILA DO CRATO (CE): SUA HISTÓRIA EM VERSO E REVERSO

O CAPITÃO-MOR DA REAL VILA DO CRATO (CE): SUA   HISTÓRIA EM VERSO E REVERSO

                                                  Autora: Maria Cecília Santos Carvalho
                                                   Postado por: Heitor Feitosa Macêdo

Quantas vezes já ouvimos a expressão: Ninguém é insubstituível?
Acredito que somos todos insubstituíveis, visto que ninguém pode fazer o que o outro faz da mesma forma.


            Somos todos produto da nossa família, do nosso meio, das nossas vivências; trazemos, em nosso âmago, características, reações e comportamentos únicos, os quais constroem a nossa história; e é por essa nossa história, boa ou ruim, que poderemos ser ou não lembrados através dos tempos.
            Partindo deste ponto de vista, entro no tema a que me propus, contando um pouco da história militar e política do brasileiro José Pereira Filgueiras, eleito para o posto de capitão-mor da Real Vila do Crato (CE), em 7 de maio de 1799.
            No dia 3 de maio celebra-se a proclamação da República no Crato. Com duração de apenas oito dias, o levante republicano iniciado nesta referida data de 3 de maio e considerado por muitos historiadores pouco planejado e repentino, tanto no Ceará quanto em Pernambuco, sua capitania de origem, foi abortado pelas tropas legalistas no dia 11 deste mesmo mês, por ordem do governador do Ceará, Manuel Ignacio de Sampaio.
            Presos os cabeças do movimento e seus principais adeptos, iniciou-se a terrível Devassa, com centenas de patriotas processados, alguns executados sumariamente, outros assassinados, sendo que muitos foram exilados ou perderam suas vidas nas prisões.
            Para abrandar os ânimos nas festividades de coroação de D. João VI, em 6 de fevereiro de 1818, foi expedida uma Carta Régia que ordenou o fim da Devassa e suspendeu ordens de prisão após essa data, perdoando os réus, com exceção dos comandantes das rebeliões, que continuaram nas prisões e só foram libertados em 1821.
            Após este pequeno resumo da Revolução Pernambucana no Ceará, mais especificamente, acontecida na Vila do Crato, suponhamos que o capitão-mor José Pereira Filgueiras tivesse apoiado o movimento, mesmo sem entender com maior profundidade o plano dos inconfidentes. Será que as forças realistas das outras vilas sob sua jurisdição também apoiariam o movimento levantado tão repentinamente como o que aconteceu na Vila do Crato? Estariam todas essas vilas e seus povos prontos para suportar suas consequências?
            Provavelmente, sem um planejamento eficiente, todas essas vilas teriam sido subjugadas pelas forças legalistas e, com certeza, o governador Sampaio não teria como perdoar seu comandado, o capitão-mor José Pereira Filgueiras, pelo crime de alta traição à Casa de Bragança; ele também teria sido preso e responsabilizado como um dos cabeças da malfadada revolução eclodida no Crato.
            Consideremos: se o governo cearense tivesse criado uma comissão militar para julgar os patriotas republicanos, certamente, os chefes do movimento teriam sido executados ainda mesmo em Fortaleza.
            Vejamos o que fez D. Marcos de Noronha e Brito, o Conde de Arcos, governador da Bahia, que, por decisão própria e levado por seu cruel autoritarismo, sem nem mesmo participá-la ao Rei, nomeou comissão militar, mandando para o patíbulo, sem prova comprovada e sem julgamento, os chefes patriotas Domingos José Martins, José Luiz de Mendonça e Miguel Joaquim de Almeida e Castro, o intemerato Padre Miguelinho.
            Avançando mais um pouco no tempo, podemos ainda indagar: Caso o capitão-mor José Pereira Filgueiras tivesse sido preso, condenado e provavelmente executado junto aos outros líderes do levante de 1817, quem estaria habilitado, na então província do Ceará, a chefiar a expedição em socorro aos independentistas do Piauí e Maranhão, em 1823? Quem teria oferecido sua vida e coragem para comandar os confederados republicanos cearenses durante os terríveis combates da Confederação do Equador, em 1824? Qual seria a versão da História do Ceará contada até os dias de hoje, motivo de honra para seus cidadãos?
            Não se pode deixar de dar razão ao Dr. Irineu Pinheiro, um dos biógrafos mais legítimos do capitão-mor do Crato, quando em sua tese, Um Baiano a Serviço do Ceará e do Brasil, ¹ questiona: Por que nada se fez (no Ceará), no primeiro quartel do século passado, sem a colaboração de Pereira Filgueiras, ou melhor, sem sua ostensiva chefia?
            Concluindo estas breves considerações, pensemos bem antes de julgar e condenar o capitão-mor José Pereira Filgueiras, que, embora monarquista, levantou exércitos contra a opressão absolutista e ofereceu sua vida visando ao bem da nação brasileira, terra onde nasceu e que tanto amou.


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¹  PINHEIRO, Irineu. Um Baiano a Serviço do Ceará e do Brasil. Revista do Instituto do Ceará  (RIC), Fortaleza (CE), tomo LXV, ano 1951, pp. 5-27.
                            

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